Esse final de semana que passou fez um dia tão lindo aqui em Paris, o céu estava azul e quase não se percebia mais o frio do inverno, ainda estamos no começo da primavera mas as estações do ano são tão certinhas por aqui que o tempo já está começando a esquentar. Então eu e o meu marido resolvemos alugar aquelas bicicletas Vélib’ e começamos o nosso passeio por essa cidade encantadora. Passamos por parques cheios de pessoas fazendo piquenique com suas famílias, pessoas praticando esportes, pessoas deitadas na grama apreciando o calor do sol e nós curtindo cada momento admirando a paisagem e vivendo a vida como um parisiense vive. Ao fim do nosso passeio deixamos as bicicletas num ponto perto da Torre Eiffel e começamos a caminhar. E conversando sobre a vida surgiu um assunto. O meu marido trabalha viajando pelo mundo a mais ou menos 10 anos, e em todos esses anos ele já conheceu mais de 30 países, nós estamos juntos a 5 anos e ele sempre me fala “brincando” que a casa dele é o mundo. Mas pensando bem não é brincadeira é verdade! Desde que eu deixei o Brasil e posso dizer que eu tenho morado no mundo. A minha casa tem sido o mundo e eu vou contar que é uma experiência com dois lados. O lado A todo mundo já sabe, que é conhecer um país diferente, um novo sabor, conhecer belas paisagens, lugares paradisíacos, o enriquecimento cultural, as novas amizades, a rotina que não é uma rotina por muito tempo e milhares de outras coisas. O lado B a gente tenta ignorar, mas ele está lá. Depois de 4 anos morando fora eu percebo que hoje nenhum lugar é a minha casa, você começa a ficar inquieta por que no fundo você sabe que ali não é o seu lugar e isso começa a incomodar de uma certa maneira. Você não consegue mais criar raízes e quando você começa a criar já é hora de partir para um outro destino e tem sido assim comigo. As amizades que você faz são passageiras, passam por sua vida rapidamente, os mais especiais você cria um vinculo mas só o tempo irá mostrar se essa amizade durará até o resto da vida. As pessoas vem e vão. Daí você pensa, poxa será que um dia eu irei me encontrar com essa pessoa que conviveu , fez parte e compartilhou tantos momentos bons e ruins na minha vida? Você vai começar a perceber que muitas pessoas que você considerava muito no Brasil aos poucos bem devagarinho irão se distanciar, e só irão ficar as pessoas que realmente te amam de verdade. É automático e você vai perceber. Daí você começa a sentir um nó no coração e pensa que para quem você achava que era importante hoje já não é mais. Só os verdadeiros e os mais importantes ficam. Não que voc6e deixa de pensar, ou não se comunica com elas, mas você vai perceber que já não existe mais aquela química de antes. Alguns acham que só porque você está morando fora, você é rica, que mudou os seus valores, que ja não é mais a mesma pessoa. Irão te julgar. Mas quem realmente te conhece e sabe quem você é estará do seu lado para sempre. E então o pior de todos os sentimentos é que você começa a pensar nos vários momentos que você já perdeu e está perdendo vivendo longe dos seus pais e que os anos estão passando rápido demais e eles estão envelhecendo sem a sua companhia e que um dia eles irão embora, e você já se sente culpada por viver por tantos anos longe deles. Mas para você se consolar você pensa que o mais importante é saber que todos eles estão com saúde e sabe que eles só querem ver você feliz onde quer que você esteja e que hoje é fácil a comunicação por via internet. Você pensa também que a vida é um ciclo : os filhos nascem, crescem, batem asas e voam. Tem sido assim com todo mundo, seja morando perto ou longe esse é o ciclo da nossa vida. Mas essa conversa que eu tive com o meu marido me faz sentir um sentimento que eu jamais saberei explicar e ter a resposta para a minha pergunta. Onde eu irei me sentir em casa outra vez? Eu perdi as minhas raízes? Onde é o meu lugar nesse mundo?
Beijos a todos.
Simone Francisca